E não podem pedir ao Tintin para resolver isto?
Este país está sem governo desde meados de Junho e ninguém parece dar muita importância a isso. O flamengo Yves Leterme, o mesmo que andou a cantar o hino francês aos jornalistas, devia ter-se tornado primeiro-ministro e formado governo. Leterme queria fazer uma série de reformas estatais, mas a Valónia, a parte francófona do país, não esteve pelos ajustes. Há décadas que a Bélgica é governada por políticos da Flandres e os valões estão a perder a paciência. Depois de semanas de negociações entre os vários partidos (e eles são muitos) sem que se fosse a lado nenhum, Leterme resignou ao cargo e deixou a trapalhada para o rei resolver.
Imaginei logo o desastre que seria se também fôssemos uma monarquia e o Duque de Bragança fosse chamado a resolver uma coisa destas.
O caos instalou-se? O país está inoperacional? Os flamengos e os valões andam a esfolar-se uns aos outros?
Nem por isso. A verdade é que as ruas continuam calmas, e, como é habitual por cá, parece que não se passa nada. Ainda não percebi muito bem se as pessoas são relaxadas ou indiferentes.
O que acho é que isto, para eles, não é nada. Com três línguas oficiais (e alguns dialetos pelo meio), duas culturas, duas televisões nacionais, dois sistemas de educação, cinco parlamentos (não me perguntem) e um monte de organizações internacionais a povoar Bruxelas, percebo que este tipo de coisas seja normal.
Como se já não bastasse haver um país com dois povos que literalmente não se falam nem se misturam, num dos canais de televisão flamengos também há um programa em que as várias regiões da Flandres competem entre si para ver qual é a melhor.
Não me levem a mal: é claro que um país famoso por chocolate e que me fez gostar de cerveja (mas só da de cereja) só pode ser um bom país. Só os acho um bocadinho complicados.
posted by Postcards from Portugal @ 12:19
4 Comments:
Tenho uma leitura demasiado selectiva: retive a parte da cerveja de cereja. Eh, pá, tens de trazer uma amostra disso aqui pra je! (vai na volta até existe por cá pelos supermercados, mas a minha rodagem não é muita pelo sector das bebidas alcóolicas, é mais pelas prtaeleiras da cérelac..)
Coxa grossa com baby coxinhas greetings!
Não deixa de ser curioso que o país anfitrião de (quase) tudo o que governa a União Europeia não se conseguir governar a si próprio... Noutro tom, para mim a melhor frase tirada do seu contexto é "resignou ao cargo e deixou a trapalhada para o rei resolver". Como se o governo de um país fosse uma questão de acalmar birras entre adultos, e quando alguém teima na birra, pede-se ao rei que tenha uma atitude. Continuo sem perceber muito bem as monarquias "modernas". Por fim, ó Raquel, a cerveja de que se fala até existe nos nossos supermercados, mas só naqueles gourmet. Que é como quem diz, naqueles assim mais esquisitinhos :)
Beijinhos!
Acho que o Rei tambem nao sabe muito bem o que fazer. Parace-me que deve estar mais interessado em ir aos casamentos e baptizados de monarcas europeus que aparecem na Caras. Ele la tera os seus conselheiros para tratar destas coisas.
Mas sim, isto aqui e' tudo uma questao de birras. Ja se fala de separacoes tipo Checoslovaquia (saiu hoje no Publico um artigo muito bom sobre isto). O problema e' que ambas as partes querem Bruxelas (que, para complicar, esta geograficamente na Flandres mas tem uma maioria de francofonos).
Viva a Kriek, essa coisa maravilhosa!
Fantástico! O que me deixa mais boquiaberta é que está tudo pacífico. A quantidade de países neste planeta que, numa questão de horas, já estariam com a polícia de choque na rua a tentar controlar as facções rivais (e mais aqueles países todos em que a polícia normal já é mais ou menos de choque)! Quanto à questão de Bruxelas, há sempre o exemplo de Berlim... em meados do século passado, houve lá um problema semelhante. :-P Mas não estou a ver os belgas a daram-se ao trabalho de construir um muro... e ainda bem.
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