O filme do desassossego

Fui ver Control, de Anton Corbijn, na maior sala de cinema de Bruxelas. Um brutamontes labiríntico de betão, bilheteiras self service e pipocas, construído num velho parque de estacionamento. O cinema fica na zona do Átomo, da Little Europe e de mais não sei quantos parques. Que é o mesmo que dizer no meio do nada. Aquilo é muito giro durante o dia com todas as criancinhas e turistas a passear mas é literalmente o fim do mundo à noite. Ainda para mais quando se vai ver um filme na sessão das dez e meia e não se tem carro. Traduzindo para português, é o equivalente a ir à sessão da meia-noite num qualquer centro comercial da Lisboa suburbana sem ter transporte para casa. Não percebo porque é que este filme não está num cinema mais central e adequado, mas quando saímos da sala - que dava para umas 200 pessoas mas só tinha quatro - aquele ambiente deprimente fez algum sentido. O nevoeiro, os edifícios vazios, o silêncio, o nada. Isolation. Nunca estive em Macclesfield nos anos 70, mas fora as luzes do Átomo a piscar o espírito deve ser parecido.

E o filme é muito bom. Fucking hallelujah.



I've been waiting for a guide to come and take me by the hand.
Could these sensations make me feel the pleasures of a normal man.
New sensations bear the innocence, leave them for another day.
I've got the spirit, lose the feeling, take the shock away.
Disorder, Joy Division